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Localizada no centro geográfico do Estado de São Paulo, a cidade de São Carlos possui características especiais que a tornam um local de destaque sob vários aspectos. O vigor acadêmico, tecnológico e industrial conferiu à cidade o título de Capital da Tecnologia. Suas universidades e centros de pesquisa são reconhecidos pela excelência e diversidade. A Universidade de São Paulo (USP), com dois campi na cidade, e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) oferecem ensino gratuito e de qualidade e já incorporaram à história de São Carlos suas contribuições à ciência e à capacitação profissional de milhares de alunos.
 

Diante da concentração de universidades e centros de pesquisas, São Carlos apresenta grande concentração de cientistas e pesquisadores: um pesquisador doutor (PhD) para cada 180 habitantes. No Brasil a relação é de um doutor para cada 5.423 habitantes. Graças aos centros de pesquisas São Carlos também ostenta outra importante marca: a média anual de registros de patente é de 14,5 patentes por 100 mil habitantes. No país essa relação é de 3,2 patentes por 100 mil habitantes. A cidade abriga ainda 39 cursos de graduação e 200 empresas são consideradas de alta tecnologia, em setores como ótica, novos materiais e instrumentação. (Fonte : Prefeitura de São Carlos)


Tendo em vista este grande potencial acadêmico, decidimos questionar quais são as influencias destas instituições publicas dentro da cidade de São Carlos. Como vem se dando a relação das universidades com a população? Como e o que é produzido dentro das universidades? De que maneira a universidade enxerga as demandas concretas da cidade? Como o ensino, a pesquisa e a extensão praticados nas universidades podem ser aplicados e desenvolvidos, levando em conta a melhoria das condições de vida do povo? As universidades têm conseguido divulgar cultura e ciência para a população? É papel da universidade dar conta das questões apontadas acima? 


Sabe-se que estes tipos de questões cabem em outras tantas universidades presentes no Brasil, nas quais suas influências interferem diretamente na realidade da cidade e dos cidadãos. A partir disso, todos os encontristas poderão contribuir com o debate, apontando questionamentos de sua universidade levando em conta suas particularidades.


As instituições públicas de ensino superior, inseridas no modelo de produção capitalista, refletem os seus valores e contradições. As características que existem em uma sociedade capitalista, tais como o individualismo, competitividade, desigualdade, hierarquia, mercantilização e o machismo, também estão presentes na universidade, onde essa ideologia vigente não é questionada. Assim como todas as esferas de produção e da vida social no capitalismo são fragmentados, a universidade não foge disto, trabalhando com recortes da realidade.


“A forma atual do capitalismo caracteriza-se pela
fragmentação de todas as esferas da vida social, partindo
da fragmentação da produção, da dispersão espacial
e temporal do trabalho, da destruição dos referenciais
que balizavam a identidade de classe e as
formas de luta de classes. A sociedade aparece como
uma rede móvel, instável, efêmera de organizações
particulares definidas por estratégias particulares e
programas particulares, competindo entre si.”
M. Chauí, A universidade sob nova perspectiva


Ao apontar reflexões a serem feitas sobre esse tema, teremos de propor perguntas quanto a atuação do biólogo nesse modelo de universidade atual que é denominado pelo termo “Universidade operacional”, segundo FREITAG.


“A visão organizacional da universidade produziu
aquilo que, segundo Freitag (Le naufrage de
l’université), podemos denominar como universidade
operacional. Regida por contratos de gestão, avaliada
por índices de produtividade, calculada para ser
flexível, a universidade operacional está estruturada
por estratégias e programas de eficácia organizacional
e, portanto, pela particularidade e instabilidade
dos meios e dos objetivos. Definida e estruturada
por normas e padrões inteiramente alheios ao conhecimento
e à formação intelectual, está pulverizada
em microorganizações que ocupam seus docentes e
curvam seus estudantes a exigências exteriores ao
trabalho intelectual. A heteronomia da universidade
autônoma é visível a olho nu: o aumento insano de
horas/aula, a diminuição do tempo para mestrados e
doutorados, a avaliação pela quantidade de publicações,
colóquios e congressos, a multiplicação de comissões
e relatórios etc.”
M. Chauí, A universidade sob nova perspectiva



Entendendo a atuação do biólogo como uma amplitude de conceitos, valores e atitudes, nos cabe a perguntar se este modelo proposto consegue lidar com estas competências diversas, proporcionando ao sujeito capacidade de intervir e melhorar o ambiente em que vivemos, de maneira crítica e consciente. Temos formado biólogos preparados para este tipo de atuação? A pesquisa realizada nas universidades tem esse caráter? Existem projetos que proporcionam integração do biólogo com sua realidade local, buscando soluções e formas de atuar intervindo na mesma?


Estes questionamentos são de grande importância para a atuação reflexiva do estudante universitário, entendendo a dinâmica da sociedade e suas problemáticas, atuando criticamente em sua vida acadêmica e por conseqüência no seu futuro profissional. Desta maneira, as formas de atuação se abrem, proporcionando ao estudante uma reflexão de sua prática em qualquer instância universitária, além de buscar outras organizações não institucionais, se entendendo como sujeito histórico.


É com esta intenção, pensando no sujeito do ENEB, que buscamos aprofundar o debate sobre a função social da universidade, trabalhando o tema de maneira mais ampla, colocando diversos questionamentos e apontamentos sobre a sua relação com a sociedade.

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